terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Descendo pelo Ralo

Não aconteceu comigo só uma vez, quando no fim de festa, ou numa mesa de bar (quando, em ambas as situações, todo mundo já tava bêbado...), alguém me fazer a boa e velha pergunta: "É verdade que no hemisfério Sul a água desce pelo ralo em sentido diferente que no hemisfério Norte?". O que se seguia, normalmente, era um Físico embriagado tentando explicar para um bando de leigos embriagados um dos fenômenos mais interessantes da mecânica. Hora de desvendar mais uma parede desse labirinto.
Pra começar, todo mundo sabe que a Terra gira, de oeste para leste (ou da esquerda para a direita), de maneira que o sol nasce na África antes de nascer aqui. Agora, sempre podemos imaginar que, se pensarmos apenas nesse movimento de rotação, existem dois pontos da Terra que nunca se movem: os pólos Norte e Sul. Tendo deixado isso bem claro, passamos a outro ponto: O período de rotação da Terra é aproximadamente 24 horas. Isso significa que qualquer ponto da Terra deve voltar ao mesmo ponto que estava 24 horas atrás. Porém, a Terra é, ao contrário do que meu avô diz, redonda. Isso faz com que um corpo que está no equador tenha que percorrer um caminho muito maior em 24 horas do que um corpo que esteja, por exemplo, em um dos trópicos. Mas não importa o caminho, ele DEVE SER PERCORRIDO EM 24 HORAS; e vale à pena agora lembrá-los de que velocidade é o caminho percorrido, dividido pela tempo gasto: isso nos leva a concluir que o corpo situado no equador deve girar muito mais rápido do que o corpo no trópico, ou, de maneira extrema, um corpo situado nos pólos tem velocidade zero. Essa aberração mecânica em referenciais em movimento circular, tais como muitos outros, é conhecida como efeito de Coriolis (leia-se coriolí). Por causa dessa diferença de velocidade, para nós que estamos no hemisfério sul, tudo o que está ao norte gira mais rápido da esquerda pra direita, fazendo com que redemoínhos e grandes furacões girem no sentido horário no nosso hemisfério. Em fotos de satélite, pode-se perceber esse efeito nas grandes massas de nuvens.
Agora, quando alguém me pergunta sobre a água na sua pia, ou no vaso sanitário, pode desistir de observar qualquer efeito de Coriolis. A força tratada nesses fenômenos é muito pequena em comparação com as outras forças que agem numa pia, ou numa descarga.
Se você se interessou sobre as "forças de Coriolis" e o "efeito Coriolis", proponho um exercício mental. Imagine-se em um carrossel, com uma bola na mão, e um amigo na outra ponta. Agora, tente atirar essa bola pra ele, em linha reta: que movimento você verá a bola fazer, tendo atirado-a pra frente?
Me despeço deixando esse problema pra vocês resolverem, na prática quem sabe.
Até mais.

No Hemisfério Sul, sobre a Austrália:

No Hemisfério Norte, sobre os EUA:

Mapa do Labirinto