quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Algo que todo Lobisomem deve saber

Você já deve ter notado (ou se não, note) que a Lua sempre mostra a mesma face para a Terra, e apenas a sua região de sombra se modifica, com o passar dos dias. Isso não é por acaso: há uma razão por trás disso, e que vou demonstrar agora.

Primeiro, precisamos ter uma noção de como trabalha a Força Gravitacional. Isso mesmo, a força da gravidade é aquilo que nos mantêm seguros no chão, e que mantém a Lua girando em torno da Terra; é uma força de atração entre os corpos. Essa força depende de dois fatores: a massa dos corpos que se atraem (quanto maior sua massa, maior a força), e a distância que os separa (quando maior a distância, menor a força).
Para o nosso caso, como a massa da Terra e da Lua são aproximadamente constantes, será relevante entender que a força gravitacional é mais fraca quando a distância entre os corpos é maior. À partir disso, não deve ser difícil perceber que a força gravitacional que atua na face da Lua mais próxima à Terra é maior que a força gravitacional que atua na face oposta, que está mais distante. No diagrama 1 abaixo, está demonstrado essa situação (quanto maior a seta, maior a força).
Mas você deve notar que, se você pega um objeto qualquer e faz, em uma ponta dele, uma força maior que na outra, ainda que na mesma direção, essa diferença nas forças tende a fazer o corpo se esticar, ou seja, como se nele estivessem agindo duas forças com direções opostas, como mostrado no diagrama 2. Isso é o que chamamos de efeito de maré, e ocorre não só com a Lua, mas também com a Terra.
A grande diferença está no fato de que a Terra possui uma grande massa de água, e a água pode ser deformada mais facilmente: quando a massa de água da Terra "se estica", dá origem às marés. Mas com a Lua isso não ocorre, pois ela é feita de rocha. Dessa maneira, se a Lua possuísse um movimento de rotação em relação à Terra, ela teria que ser deformada constantemente, o que no seu caso é muito mais difícil. Por essa razão, é energeticamente mais eficiente para a Lua mostrar sempre a mesma face para a Terra, uma vez que ela não precisa se "redeformada" dessa maneira.
Agora vocês sabem que, além de mostrar sempre a mesma face para a Terra, a Lua é levemente ovalada na nossa direção. Hm... vou fazer um omelete. Até a próxima!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Quando se leva um tiro

Esses dias eu vi uma review interessante sobre um dos filmes que mais desafia as leis da Física: "Triplo-X", e pensei em mostrar algo no qual os filmes, principalmente os mais antigos, sempre têm feito de forma errada: o que acontece quando uma pessoa leva um tiro?

Você pode observar que, na grande maioria das cenas, a pessoa é atirada para trás com violência, algo que nem sempre corresponde ao que aconteceria em uma situação real, e que é apenas utilizado como efeito cinematográfico. Vou demonstrar porque.
A primeira coisa que quero deixar claro é o conceito de simetria de translação. É algo bem simples, na verdade: significa que, se você observa um fenômeno físico, simétrico por translação, a 10 metros, é a mesma coisa de se olhar o mesmo fenômeno a 20 metros. Se você vê alguém levando um tiro a uma curta distância, ou a uma longa distância, o efeito será o mesmo. Tendo vencido esse obstáculo, passamos para o próximo.
A simetria de translação leva diretamente à uma lei de conservação do momento linear total, que alguns conhecem por  quantidade de movimento. Basicamente, a quantidade de movimento de um corpo é a sua massa multiplicada por sua velocidade. A lei de conservação diz que se somarmos a quantidade de movimento dos dois corpos (pessoa + bala), essa quantidade se conserva, mesmo depois que a bala atinge a pessoa. Agora, vamos observar o fenômeno em si:
Em um momento inicial, temos uma pessoa parada, e uma bala vindo em alta velocidade em sua direção. Aqui, vou considerar uma 9mm na norma americana, cuja massa é m = 8g e a velocidade média é v = 367m/s, e uma pessoa adulta de m = 70 kg = 70000 g. Vamos calcular, então, a quantidade de movimento inicial:

Sabemos, pela lei de conservação que descrevi acima, que mesmo depois que a bala atinge a pessoa, essa quantidade de movimento deve ser a mesma. Após a colisão da bala, o nosso sistema passa a ser um corpo, de massa igual à soma das massas da pessoa e da bala ( m = 70008 g), se movendo com uma velocidade v, que vamos determinar agora:
Após o tiro, a pessoa é arremessada para trás com uma velocidade de v = 0,042 m/s, ou v = 0,151 km/h. Bem menor do que aquela mostrada nos filmes.
Uma exceção à essa regra, que aliás nunca foi exibida por motivos óbvios, aconteceu nas gravações do filme O Corvo, onde em uma cena, Brandon Lee foi atingido por uma bala de verdade (0.0). Os negativos da gravação de sua morte nunca foram revelados.
Enfim, quando você vir um filme, de agora em diante, e alguém for atingido por uma 9mm, você pode conferir se ela voa pra trás feito um beija-flor, ou sai mais ou menos com a velocidade que encontramos acima. Ou como diria o Austin Powers: "Não pense muito nisso e divirta-se.". Até mais.

Mapa do Labirinto